O Incêndio Que Mudou a Cidade
Alimentado pelo vento, a 13 de Abril de 1421, um enorme mar de fogo reduziu a capital Amsterdam a cinzas. O incêndio não foi uma surpresa, mas deixou na ruína muitos dos habitantes da cidade. Mas foi o motivo para a capital se tornar na cidade que hoje é.
Todos na Amsterdam medieval sabiam que um dia isto aconteceria: um grande incêndio que iria destruir tudo. As casas, assim como armazéns, eram todas feitas em madeira, que não protegeriam lares e negócios contra as chamas, principalmente em períodos de seca. Os telhados de palha eram o combustível, que impulsionadas pelo vento, podiam espalhar uma chuva de fogo por toda a cidade em um piscar de olhos.
A atitude em relação ao risco de incêndio certamente não foi casual. Naturalmente, o povo de Amsterdam envolveu-se na prevenção de incêndios. Todos os anos, doze "guede knapen", uma espécie de inspectores, eram escolhidos e empossados como mestres do fogo. A cidade foi dividida de norte a sul em quatro longas faixas e a cada um destes mestres foi designada a sua própria parte para vigiar. Os bombeiros tinham autoridade para entrar na casa das pessoas e supervisionar a segurança dos edifícios contra os incêndios.
Vigilância não foi tudo o que fizeram. Havia protocolos sobre como se comportar em caso de incêndio. Os carpinteiros, por exemplo, tinham que ir para um fogo com machados de incêndio. E encontramos nos documentos de Amsterdam mais antigos (de 1413), regulamentos que deixam claro a prevenção das casas da cidade. A Câmara Municipal determinou que era proibido fazer fogueiras em salas sem chaminé e com menos de três metros de largura. Também era proibido acender velas nas paredes de tecido ou em madeira. Os fornos tinham que ser espaçosos o suficiente para contorna-los, não sendo por isso permitidos encostados a uma parede. A única excepção era para fornos em casas de pedra, mas praticamente não havia nenhuma. Apenas os mais ricos e abastados tinham condições financeiras para uma.
As regras também se aplicavam aos telhados. Apenas com uma permissão era possível trabalhar num telhado. À palha teve de ser adicionada dois centímetros de espessura de argila batida do lado de fora, misturada com estrume, para que as fagulhas não pudessem incendiar facilmente. A violação dessa regra era multada em cinco libras holandesas, uma quantia enorme nessa altura.
Alcatrão
Além disso, era proibido untar as casas com piche ou alcatrão e o município até fez o possível para proibir completamente o armazenamento de piche ou alcatrão na cidade e o seu uso dentro das paredes de Voorburg.
Apesar de todas as medidas, a 13 de Abril de 1421, eclodiu um enorme incêndio. Os Países Baixos eram nessa altura assolados pelas complicadas disputas Hoekse e Kabeljauwse. O bispo de Utrecht, Frederik III van Blankenheim, também interveio nas guerras entre as cidades holandesas. Com o apoio de Leiden, Kampen e Deventer, ele iniciou uma guerra em 1420 com o conde holandês Jan van Beieren e fez repetidos ataques a Amsterdam. Não é inconcebível que o incêndio da capital tenha sido iniciado pelos militares apoiados pelo bispo de Utrecht no lado sul da cidade.
O Incêndio
Alimentadas por um vento sul, as chamas devoraram Bindwijkerpoort no Spui através da Kalverstraat, antes de se espalharem rapidamente para outras partes da cidade. Nas crónicas Johannes de Beke pode-se ler que um terço da cidade foi atingida pelo fogo. Os afectados foram a Capela ter Heilige Stede na Kalverstraat, a Sint Elisabethgasthuis com o município na Dam e a Nieuwe Kerk, que ainda estava em construção na época e longe de ser concluída.
A combustão deverá ter demorado algum tempo, mas o fogo em si foi provavelmente curto e forte. Uma razia de chamas que deixou para trás uma combustão lenta dos edifícios. Não se sabe se houve vítimas. Para alguns dos afectados, o incêndio foi, sem dúvida, um rombo financeiro que nunca recuperaram, mas para a cidade o incêndio parece ter sido um combustível para a expansão. Nos anos após o incêndio, vemos um grande desenvolvimento urbano. Os ataques à cidade e o incêndio deram motivos para melhorias nas defesas da cidade e ampliar a área urbana.
Casas de Pedra
Enquanto isso, o povo de Amsterdam voltava ao que fazia antes: construíam suas casas em madeira. Em outras cidades da Holanda, o tijolo já era usado para construir casas, mas em Amsterdam era usado principalmente para a alvenaria de chaminés. Somente no século XVI é que os habitantes de Amsterdam começaram a fazer suas casas em pedra. Enquanto isso, esperava-se que a cidade não fosse atingida por tal catástrofe novamente. Mas no fundo, sabiam que algo do género poderia acontecer. Tanto assim é que também estava escrito nas novas escrituras de arrendamento essa possibilidade e a não responsabilização dos senhorios. Essa expectativa tornou-se realidade, quando em 1452, outro incêndio ocorreu na cidade, muito maior do que o de 1421.