O Caos Político Explicado - Rutte Sobrevive por Pouco à Moção de Censura
Num debate que durou até as primeiras horas da manhã, o primeiro-ministro Mark Rutte enfrentou muitas perguntas sobre os seus comentários sobre o membro do CDA, Pieter Omtzigt, nas negociações para uma coligação. Foi por volta das 3h da manhã de sexta-feira que Rutte sobreviveu, por pouco, a uma moção de censura apresentada na Câmara dos Deputados na quinta-feira por Geert Wilders, líder do PVV.
O caos surgiu depois de um documento confidencial ter sido fotografado por jornalistas e publicado nos vários meios de comunicação, quando Kajsa Ollongren, um dos dois representantes seleccionados pelo VVD e D66 para conduzir as negociações de coligação, foi retirada do parlamento a 25 de Março, após um teste positivo para coronavírus.
Fotos do documento revelaram uma série de questões que surgiram nas negociações, incluindo o facto de que a maioria no Senado não seria uma prioridade, mas o comentário que causou mais polémica foi uma frase sobre o deputado do CDA: “Lugar Omtzigt, função em outro lugar."
Omtzigt foi um dos denunciantes no escândalo do benefício de assistência à infância, que levou à renúncia de Rutte e de seu governo em Janeiro deste ano.
Rutte Nega
Vários dirigentes do partido, incluindo o líder do CDA Wopke Hoekstra, foram rápidos em anunciar que o lugar de Omtzigt não havia surgido em suas conversas. Na noite de quinta-feira, tanto Rutte quanto a líder do D66, Sigrid Kaag, negaram que o tópico de Omtzigt e sua posição potencial tivessem surgido em suas reuniões de preparação da coligação. Rutte disse à NOS "não falamos sobre Pieter Omtzigt."
As duas negociadoras, Ollongren (D66) e Annemarie Jorritsma (VVD), renunciaram em função dos acontecimentos e no final da sexta-feira, foram substituídas por Tamara van Ark (VVD) e Wouter Koolmees (D66). Com isso, Rutte tentou passar o caso para trás, dizendo à imprensa que ninguém iria explicar a nota. Ollongren e Jorritsma assumiram total responsabilidade pelo conteúdo do documento, enfatizando que nenhum líder do partido havia falado sobre Omtzigt nas reuniões.
A 31 de Março, a Câmara solicitou um debate sobre o assunto, e a porta-voz, Khadija Arib, pediu a Koolmess e Van Ark que reunissem todos os documentos disponíveis sobre a formação da coligação e os tornassem públicos. Rutte alertou contra a decisão, sugerindo que poderia causar um mau impacto nas relações entre os parlamentares e se ofereceu para divulgar apenas as notas de suas reuniões. Sua proposta foi rejeitada pela Câmara.
Debate Parlamentar
Na noite de quarta-feira, Ollongren foi informada pelos novos negociadores que os documentos revelam quem foi a pessoa a falar sobre Omtzigt: o primeiro-ministro Mark Rutte.
Os líderes do partido receberam os documentos dos negociadores às 9.00h da quinta-feira e tiveram uma hora para examinar o conteúdo de todos os documentos. Às 11.30h, os trabalhos foram apresentados à Câmara dos Deputados.
No entanto, durante o debate, Rutte revelou que uma fonte o informou por volta das 7.30h daquela manhã que seu nome foi mencionado nas notas como sendo aquele que discutiu o lugar de Omtzigt. Rutte recusou a revelar a identidade de sua fonte. Ollongren, Van Ark e Koolmees disseram à Câmara que não tiveram contacto com o primeiro-ministro.
O Xadrez Político
Ao longo do debate, Rutte afirmou que não mentiu sobre seus encontros com Ollongren e Jorritsma. Em vez disso, disse à Camara várias vezes que se havia esquecido de ter dito qualquer coisa. Rutte, Ollongren e Jorritsma disseram que o tópico do lugar de Omtzigt foi mencionado tão casualmente e tão brevemente que os três se esqueceram que a conversa havia ocorrido.
Os líderes dos partidos atacaram Rutte, questionando sua confiança e veracidade como líder de um país à luz dessas novas informações. Kaag e o líder da GroenLinks, Jesse Klaver, destacou o “padrão de esquecimento” de Rutte. Wilders do PVV sugeriu a realização de novas eleições e na tarde de quinta-feira, apresentou uma moção de censura a um ministro demissionário e ainda não reeleito.
Rutte lutou por sua posição e quando a votação foi realizada por volta das 2.30h da manhã de sexta-feira, 72 deputados apoiaram a moção. Todos os membros da oposição apoiaram a moção de Wilders. No entanto, Rutte conseguiu assegurar o seu lugar com o apoio dos partidos da coligação - D66, CDA, VVD e ChristenUnie - alcançando uma ténue maioria com 76 votos.
E Agora?
Rutte pode ter sobrevivido à moção de censura, no entanto, o D66 e o CDA apresentaram um voto de desconfiança, que recebeu o apoio de todos os partidos, excepto do VVD. Isto deixa Rutte numa posição difícil enquanto prosseguem as negociações para formar sua próxima coligação.
Na noite de quinta-feira, Van Ark e Koolmess renunciaram como negociadores para a formação da coligação. Eles serão substituídos agora por apenas um negociador, que será “autoritário e independente”, mais afastado do governo holandês do que os anteriores. O Parlamento espera que o negociador também acelere o processo de formação da coligação governamental e restaure a confiança entre as partes. Ainda não se sabe quem será esse negociador.
Rutte disse que leva a moção de censura muito a sério e que, embora continue como primeiro-ministro, "trabalhará muito para reconquistar a confiança". Ele também se desculpou pessoalmente com Omtzigt.