O dinheiro de uma conta bancária pode ser confiscado. Mas apreender a chamada carteira digital (uma carteira para criptomoedas) é muito mais difícil. A criptomoeda é assim útil para os criminosos fazerem lavagem de dinheiro e protegerem os seus ganhos da vista da polícia. No entanto, os serviços de investigação holandeses conseguiram confiscar 25 milhões de euros em criptomoedas.

É difícil estimar quanto dinheiro está envolvido no crime criptográfico em todo o mundo. “As carteiras digitais dos criminosos foram esvaziadas e isso prejudica-os. Esses 25 milhões talvez sejam apenas os rendimentos semanais de um comércio organizado de drogas, cujo dinheiro agora foi confiscado”, disse Rolf van Wegberg, investigador de crimes criptográficos na TU Delft.

O produto desta investigação de lavagem de dinheiro em criptomoedas é um recorde para os serviços de investigação holandeses. Em 2013, os serviços conseguiram, pela primeira vez, realizar detenções por causa disso. No ano passado, foram apreendidos 8 milhões de euros e no ano anterior cerca de 1 milhão.

“Já tivemos sucesso em impedir a comunicação e o fluxo de mercadorias de criminosos. Mas com isto mostramos que os seus fluxos de dinheiro não são mais seguros”, disse Anne de Leeuw, assessora de imprensa do Ministério Público (OM).

Os serviços de investigação holandeses receberam a cooperação de empresas gestoras de carteiras digitais, no país e no estrangeiro, na investigação de lavagem de dinheiro. Por lei, essas empresas são obrigadas a cooperar.

Tráfico de Drogas

As criptomoedas são cada vez mais usadas no submundo online, que lida com ransomware e comércio de armas e drogas. A isto ajuda que as cryptos não sejam regulamentadas. “Antigamente, um grande saco de dinheiro era passado debaixo de um viaduto. Isso já não é mais assim, porque é para isso que se tem bitcoin. O valor de dez quilos de cocaína não precisa ser guardado em contentores cheios de dinheiro, mas é armazenado numa pen USB e viajar por todo o mundo sem supervisão ", diz Van Wegberg.

As moedas criptográficas são mantidas numa carteira digital , assim como dinheiro e cartão de débito estão numa carteira no nosso bolso. A cripto-carteira é um arquivo digital, do qual também podem ser feitas cópias para armazenamento em vários locais, como num telefone ou pen drive. Em princípio, se os serviços de investigação encontrarem uma das cópias, eles terão acesso ao código para confiscar as criptomoedas.

Encontrar uma carteira digital não é a parte mais difícil de uma rusga em uma casa, mas confiscar as criptomoedas por trás dela é. Porque assim que os criminosos percebem que uma cópia da sua carteira digital foi encontrada, eles movem os valores imediatamente. E uma vez que o dinheiro se moveu, nada pode ser confiscado.

No entanto, os serviços de investigação agora conseguiram confiscar bitcoin e ethereum de dezenas de suspeitos. Os suspeitos vêm de vários países, incluindo a Holanda. Alguns deles já foram identificados.

Não É Tão Anónimo Como Se Pensa

De acordo com especialistas, a bitcoin não é tão anónimo como se costuma pensar. Um saco de dinheiro deixaria menos vestígios. É por isso que os criminosos misturam bitcoins para disfarçar a sua identidade e dificultar o rastreio da polícia. Há dois anos atrás , os serviços de investigação holandeses encontraram online um mixer que foi imediatamente retirado. O dinheiro dos criminosos não podia mais ser escondido, mas ninguém foi preso.

Van Wegberg: "Muitos criminosos questionam-se agora se a bitcoin é a melhor solução para esconder dinheiro proveniente do crime. Mas se você quiser transferir dinheiro rapidamente para o outro lado do mundo, longe da vista do sistema financeiro, as criptomoedas são o melhor remédio."

Novas criptomoedas surgem em circulação, mas na Holanda elas não são supervisionadas pela Autoridade Holandesa para os Mercados Financeiros (Autoriteit Financiële Markten). Esse fluxo de dinheiro não é por isso regulado. A Comissão Europeia já fez propostas para proibir transacções anónimas com moedas criptográficas e carteiras digitais anónimas. Ao fazê-lo, a comissão pretende evitar que o dinheiro do crime seja lavado ou pior, que o terrorismo seja financiado desta forma.